quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NOVOS E VELHOS

A idade altera a forma como se sente a vida. A juventude envolve sonhos e ilusões, optimismos e uma intensidade de sentimentos que os mais velhos não têm…
A passagem da juventude, à maturidade e à velhice, envolve experiências, verdades, reflexões novas, que alteram os nossos valores e a forma como vemos e sentimos a vida.

Nenhum jovem acredita realmente que alguma vez venha a morrer.

Recordo-me da minha juventude e do sentimento que nunca me abandonará - o sentimento de que eu podia durar para sempre, e ultrapassar todos os mares, e toda a Terra, e todos os homens; o enganador sentimento que nos chama às alegrias, aos perigos, ao amor, ao esforço vão - a morte; a triunfante convicção de força, o calor da vida na mão cheia de pó, a chama do coração que depois se esbate a cada ano, tornando-se fria, diminuindo para finalmente expirar - expirar demasiado depressa, demasiado depressa - antes da própria vida.


Há sempre um momento da juventude em que a porta se abre e o futuro irrompe.

A vida já está a meio quando começamos a perceber o que ela é.

Cada idade possui as suas verdades, as suas experiências, os seus segredos.


É muito frequente associar-se a juventude aos dias felizes, e a velhice a dias mais difíceis, ou à infelicidade que ronda as nossas existências.


Há, no entanto, opiniões contrárias, ou mais matizadas sobre a felicidade e a sua interligação à questão da idade. A juventude pode não ser uma fase da vida tão feliz como tantas vezes se diz, nem a velhice tão impregnada de juízos de medo e pejada de juízos sobre a falta de sentido da vida.

Por outro lado, a nossa felicidade ou infelicidade passa por valores, pela nossa sabedoria, expressa na forma como encaramos e controlamos a vida, e os nossos pensamentos e sentimentos. A felicidade depende, nesta perspectiva, daquilo que se passa nas nossas mentes.

Os antigos filósofos estóicos costumavam defender isso mesmo. Cícero refere-o, no seu ensaio sobre a velhice (De Senectude): «A idade, quando honrosa, tem uma autoridade que vale mais do que os prazeres da juventude».

E a assim ser, o nosso fim não tem que ser necessariamente tão negro quanto o apresentado por Shakespeare na sua comédia Como Quiserem. «A derradeira cena, término da memorável história da vida, é a segunda infância, a do puro esquecimento, a da falta de dentes, de visão, de paladar, rumo ao nada.»


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