quarta-feira, 3 de novembro de 2010

SOFRIMENTO, CRUELDADE E DOR

Viver é sofrer.

A Nobre Verdade do Sofrimento é esta: nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, adoecer é sofrer, a morte é sofrer; pesares e lamentações, dor, preocupação e desespero são sofrimento; associação ao desagradável é sofrimento, dissociação do prazer é sofrimento; não se ter o que se quer é sofrimento…

Como todos, ao nascer, respirei o ar comum. Como todos, caí numa Terra de sofrimento. Como todos, a primeira coisa que fiz foi chorar.

Atirar-te-ão pedras e elas ferir-te-ão. A vida não é um negócio fácil. É um longo caminho em que estás mergulhado: e não podes evitar os passos em falso, os golpes e quedas, e de sentires cansaço e de abertamente desejares – mentindo a ti mesmo – a morte.

Num lugar dirás adeus ao teu companheiro, a seguir enterrarás outro, e todas as vezes terás medo. Este é o tipo de coisas com que te defrontarás ao longo de toda a difícil caminhada que é a vida.


E no entanto, há sempre o outro lado... À nossa maneira, e dentro dos limites que a realidade e o acaso nos concedem, temos também a capacidade de negar o sofrimento. Dentro de nós vive uma teimosa força instintiva, expressa em sonhos, em optimismo, em vontade de viver e de ser feliz.

Mas há obviamente outras vias de negar o sofrimento, ou de o minimizar. A fé, por exemplo… A crença em Deus tem sido um bálsamo e uma fonte de conforto humano. «Alegrarmo-nos de Ti, em Ti e por Ti: isso é a felicidade. E não há outra», considerou Santo Agostinho, referindo-se a Deus.

E há também, obviamente, a amizade («A amizade redobra as alegrias e corta os males em metades», diz Francis Bacon), e o amor («Apenas a alma que ama é feliz», diz Goethe).

São algumas das vias – talvez as mais importantes - de se chegar ao que pode ser a maior das nossas vitórias – a vitória, ainda que transitória e nunca definitiva sobre o sofrimento e a crueldade do mundo.

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